Preste atenção nessa frase: “João, de modo violento e assustador, atirou com uma arma de fogo no homem que atentava contra sua vida”.
Eu tenho certeza que sua atenção irá se voltar imediatamente para o modo assustador com que o sujeito João agiu. Até descobrir o motivo, o leitor já entendeu João como o malvado. “Tentaram matar o João!” – Pode-se pensar. Mas será que tentaram mesmo? “Atentar contra a vida” quer dizer “tentativa de homicídio” ou “tentativa de suicídio” porque “sua vida” pode ser a vida do homem ou a vida de João.
Esse tipo de frase está estampada nos jornais, a depender de como melhor se vende a notícia. Da mesma forma, o modo com que se dizem as coisas nas escolas, nas propagandas e nas pesquisas de opinião fazem toda a tendência de respostas e influências caminhar numa direção ou em outra.
Saiu hoje no Valor Econômico a pesquisa de opinião sobre o que pensam os brasileiros a respeito de política. E adivinha qual foi a novidade? As perguntas foram todas baseadas em frases feitas para confundir e manipular o entrevistado. Veja a frase: “o governo deve atuar ativamente para o crescimento da economia ou as empresas devem atuar livremente para o crescimento da economia? Obviamente, o governo NÃO deve atuar ativamente na economia! Quando o governo atua na economia, sempre gera um desequilíbrio que prejudica a concorrência! Acaba favorecendo privilegiados, arranja problemas para vender soluções (leia-se: politicagem e corrupção) e a consequência é mais que óbvia: injustiça! Mas se a pessoa que responde não entende de economia, é claro que vai preferir que o governo atue ativamente, afinal, qualquer intenção ativa vale mais do que uma atuação livre, certo? Errado! E você está sendo manipulado sem saber.
Quer saber como você pode ser manipulado?
- Sugestão. Você é questionado por coisas irrelevantes para responder várias vezes a palavra “sim”. Logo depois, te perguntam algo que é veementemente um “não” como resposta. Mas já que você está acostumado em dizer “sim”, você até responde “sim”, para “ajudar” a pessoa, por ato falho ou por ser induzido mesmo.
Crianças são boas nisso: “vovô, você me acha linda?” “Acho” “Você gosta de mim?” “Gosto!” “Então me dá um presente?” - Distração. Você é obrigado a decidir entre duas opções que limitam sua liberdade de escolha de qualquer jeito. “Você é do PSDB ou do PT?” “Você quer apanhar de vassoura ou de chicote?”.
- Omissão. Você não fica sabendo do que realmente importa. Letras miúdas no final, ou então uma citação curta sobre o tema, te distraem da mesma maneira.
- Distorção. Te contam uma história para justificar o que querem te fazer acreditar. Histórias criativas, bandidos que se tornam heróis, tudo isso são instrumentos de manipulação. E lá vai você, de turismo nas férias, visitar a casa de mais um artista babaca que inventaram para você que era legal.
- Generalização. Quando um caso de exceção é usado para justificar a crítica de todo o resto. Exemplo: direito à autodefesa. Um idiota que resolve fazer terrorismo com arma de fogo serve de crítica para todas as demais pessoas que devem ter o direito de acesso às armas para se defenderem. Detalhe que em todos os casos, a única forma de conter esses loucos é com cidadãos de bem armados que, atirando, impedem que o terrorista faça um estrago maior.
- Caricatura. Fazendo piada com o que é sério, ninguém dá a devida importância ao fato. Quantas vezes você já riu do “pior que tá não fica” e achou divertido o fato de ter um palhaço no congresso nacional? “Afinal, não se faz nada de sério lá mesmo…”
Cuidado: Todos querem manipular a população para acreditar naquilo que se pretende vender!
Quando a pesquisa de opinião é gratuita para você lembre-se: alguém pagou por ela. É você mesmo quem está sendo comprado. Quando alguém te convida a participar como protagonista de um questionário importante, quem compra essa pesquisa não quer ouvir o que você tem a dizer, a pretensão é apenas te induzir e divulgar para os demais que não foram entrevistados aquilo que eles já queriam confirmar, ao induzi-lo a responder o que você acaba respondendo.
Quando a mídia pretende te informar, ela tem por trás da caneta do redator um ser humano que tem a sua versão e sua intenção prévia. E se você não acredita que eles estão te levando a concluir o que eles querem, pobre de você. Não existe imparcialidade de fatos.
Quando a propaganda te mostra uma realidade maravilhosa e você acredita nela quando compra o produto. Essa é a mais sincera das 3, pois a empresa faz propaganda para que você compre e sinta o que você mesmo quer sentir quando estiver com o produto. Nesse último caso, você sabe que sua compra é emocional e que você está disposto a pagar esse preço. Obviamente, não estamos falando de fraude ao consumidor, senão de marketing bem feito. A gente gosta e se deixa manipular.
Agora, em se tratando de notícia, pesquisa de opinião e, sobretudo, de política, não vale a pena se deixar levar assim tão fácil. As consequências não são apenas particulares.
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